O diretor espanhol Alan Masferrer foi ao Directors Notes para explicar como ele transformou um grande pedaço de tecido em uma metáfora para as várias etapas da vida no seu recente clipe musical de um único take, Growing Pains da Alessia Cara.

Houve alguma fonte de inspiração particular por trás do conceito de Growing Pains?

O conceito principal era a capa do álbum novo da Alessia Cara, onde ela aparece vestindo um terno grande que não serve nela. É uma metáfora simples para transmitir visualmente o que as letras dizem, e Alessia estava muito interessada em usá-lo para o vídeo, então eu desenvolvi tudo a partir dessa ideia, explicando uma história por trás desse terno.

Como você desenvolveu os usos variados dos elementos em vídeo? Os cenários foram inicialmente concebidos individualmente ou juntos como um todo?

A primeira ideia que me veio à cabeça detalhadamente foi o final. Eu gostava da ideia de ver o terno vindo e chegando até ela desesperadamente, eu acho que isso combina com a essência do que ela queria contar. Tecnicamente foi muito complicado porque nós tivemos que filmar de trás para frente e debaixo d’água, não para fazer parecer que era um espaço inundado, mas pra criar o efeito de uma maneira suave e impressionante. Alessia precisava ter em mente muitos elementos para fazer isso funcionar, mas ela é extremamente talentosa e habilidosa e nos surpreendeu, conseguindo fazer em pouquíssimos takes.

A segunda ideia era a sala de operações dos alfaiates. Quando Alessia me contou suas ideias pessoalmente eu imediatamente pensei em pessoas adultas tentando torná-la uma delas, criando o terno para ela, mas eu queria mostrar isso numa maneira ótica e clínica, como se fosse uma cirurgia, transmitindo a transformação para a fase adulta. Essa é a razão pela qual ela está vestindo uma roupa de hospital desde o início.

Finalmente, e somente alguns dias antes da filmagem, a ideia do tecido enorme veio. Inicialmente, nós exploramos várias fábricas têxteis antigas onde nós poderíamos mostrar a confecção do terno em um modo mais detalhado, mas eu não estava totalmente feliz com nenhuma das opções e eu eventualmente decidi fazer algo mais abstrato e visualmente poderoso. O tecido simboliza a passagem do tempo, uma espiral que você não pode parar e aquilo toma diferentes formas de acordo com cada etapa da vida.

Paralelamente, eu trabalhei com Pau Castejon (DoP), Supple Nam (coreógrafo) e Natalia Montoya (maquiadora) para desenvolver a abordagem da luz e dos personagens respectivamente. Esses são os tipos de colaboradores com os quais você sonha — extremamente criativos e dedicados durante o processo inteiro.

Houve ideias as quais precisaram ser descartadas por não poderem ser incorporadas no fluxo do vídeo?

A única coisa que ficou de fora do vídeo lançado é a Alessia dublando a última frase da música. Nós filmamos isso! E eu estava muito feliz com isso, mas Alessia não achou que estava bom o suficiente e ela me pediu para não colocar essa parte da filmagem. Eu achei uma pena porque realmente funcionou, mas era justo respeitar a decisão dela.

Qual foi o aspecto mais desafiador de criar esse vídeo e quantas tentativas foram precisas para conseguir fazê-lo?

O aspecto mais complicado foi alcançar tudo isso com apenas um dia de ensaio com os dançarinos e somente meio dia para filmar. Nós tínhamos planejado fazer ensaios iniciais com a câmera e luzes no dia antes da gravação, mas a configuração das luzes era bastante complexa e, apesar do trabalho duro de todos os envolvidos, não estava totalmente pronto até a metade do dia da gravação.

Tudo (Alessia, os dançarinos, a câmera, o guindaste, o tecido, as luzes…) precisava estar extremamente sincronizado e isso é algo que toma muito tempo, mas com muita paixão e esforço de todo mundo, nós conseguimos terminar tudo até o final do dia. Foi como um pequeno milagre, honestamente. O bom (e o último) foi apenas o sexto take que conseguimos chegar no final e o terceiro para a filmagem subaquática.

Nós contamos com o melhor operador de câmeras subaquáticas na Espanha, Txema Vega, o qual usa o habitual equipamento subaquático para filmar com uma Arri Alexa Mini, e para o take no estúdio nós usamos uma Steadicam com AR MK-V + Omega Kit junto com um grande guindaste adaptado para suportar o operador da Steadicam na intro e no final.

Já que esse é um verdadeiro vídeo de um único take sem cortes escondidos, qual trabalho adicional foi preciso depois para completar a filmagem?

Nós obviamente adicionamos o corpo da Alessia debaixo d’água no final da sequência, tirando-a do fundo da piscina e adicionando-a no fundo original, então nós tivemos que filmar o take único tendo em mente que nós iríamos adicionar o corpo submerso da Alessia no final, mantendo o espírito do take único, mas adicionando algo a mais.

Nós também apagamos todas as bolhas nela para que parecesse que ela estava realmente flutuando no ar. Às vezes o que é feito para ser subaquático é filmado em fios, usando ventiladores para mover o cabelo e adicionando a textura da água depois, mas nesse caso nós fizemos o oposto, filmando debaixo d’água algo que não é para ser subaquático. É um efeito similar ao que Chris Cunningham fez para o lendário vídeo de Only You do Portishead.

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