NOTA: 7.1/10. Leia a tradução do artigo abaixo.


Alessia Cara fez uma carreira de narrar as dores do crescimento como uma excluída. Ela cantava hinos para os isolados, os ansiosos, os anti-sociais. Às vezes, ela escrevia com um corte específico; seu single de sucesso, “Here”, deu uma visão panorâmica de uma festa do ponto de vista da solitária sentada perto da TV, com um gorro tapando seus olhos. A música foi um enorme sucesso que a enviou para a máquina do pop, e logo depois que ela assinou com a Def Jam, Cara lançou um fluxo de canções higienizadas com grande mensagens, a saturada “Scars To Your Beautiful” direcionada à uma menina que lida com dores, a séria “Trust My Lonely” era uma hino à intuição. Seus álbuns alternaram entre faixas que aproveitaram seu olho afiado para detalhes e canções mais adequadas para trilhas sonoras da Disney (Cara eventualmente foi destaque na trilha sonora de Moana). Mas sua voz inegável e sua introspecção aguçada fizeram de Cara uma figura convincente no mundo pop, mesmo enquanto ela lutava para definir que tipo de estrela ela queria se tornar.

O último álbum de Cara, In The Meantime, é uma elegante ode às entrelinhas. É um registro com parâmetros definidos: Ela culpa a si mesma depois de uma separação, sempre de olho no que o amor pode vir a seguir. Este é o tipo de melhor álbum escrito aos 25 anos, e Cara se agarra à profundidade quando aborda as primeiras apreensões sobre o envelhecimento — “Você vive e depois morre,” ela fala com voz rouca em “Best Days”, “mas o remédio mais difícil de engolir é meio-tempo”. A canção se desenrola muito como as meditações mal desenvolvidas em “Stoned at the Nail Salon” de Lorde, de outro álbum sobre a deriva através de uma crise dos 20 anos. O outro paralelo claro do álbum é o 25 de Adele, uma coleção de faixas de separação estimulantes e uma cápsula do tempo para a juventude desvanecida, estimulada por vocais de tirar o fôlego.

Mas onde Adele cantou sobre tristeza simples e tensa, Cara se deleita em emoções conflitantes. Este é um álbum sobre sentir tudo de uma vez, e Cara atravessa seu próprio caos com a escrita afiada. Veja as linhas cristalinas que sustentam seus refrões: “Eu sinto sua falta, não me ligue”; “Eu estou sozinha, você é outra pessoa;” “Eu te amo, mas você me decepcionou”. Ela também não se deixa escapar; alguns dos melhores versos de Cara no álbum vem quando ela nomeia sua dúvida e ilusão. “Eu preencho espaços em branco com meu próprio orgulho / Eu falo para mim mesma que você está infeliz sem mim”, ela canta em “Somebody Else”. Seus vocais em camadas florescem em harmonias exuberantes, intensificando a sensação interna do álbum.

Os temas que Cara explora aqui são comoventes e maduros, mas ela os dilui quando se baseia demais em metáforas e vaidades. Em “Find My Boy”, ela testa um elenco de potenciais interesses amorosos, — o cara de Brooklyn pegando uma pizza, o poeta “curto e doce”, o cara fazendo yoga na praia, — e as descrições continuam sobre as batidas leves como uma pena. Em “Drama Queen”, ela compara uma relação turbulenta contra os ideais de amor de Hollywood, mas sua busca por “um cavaleiro de armadura brilhante” se cansa à medida que a percussão suave avança. Cara passa grande parte do registro analisando suas reflexões emaranhadas em seu relacionamento passado, uma confusão de culpa e querer e dor e necessidade. Às vezes, todo esse conflito contrasta o som do álbum: pop nítido, sem fricção e puro. Ela canta sobre segurar e esconder “emoções explosivas” em “Box In the Ocean”, e a música em si os esconde em trompetes brilhantes e uma sensação inspirada reggae.

Estas faixas alegres vão crescendo até “Apartment Song”, uma coda brilhante que mostra Cara deleitando-se em um tempo sozinha. Ela gira em torno de sua cozinha e encara o céu, ela dança na frente da TV, ela muda seu número. Cara brilha com clareza, exalando e exaltando. Especialmente para uma artista que cantou tanto sobre as dores de sentir sozinha, é delicioso ouvi-la encontrar felicidade na solidão, agarrando-se à alegria fugaz enquanto pode.