O ano é 2015, e tudo que se pode falar é sobre a estreante Alessia Cara e seu hino para os introvertidos, “Here”. Desde então, Alessia passou a se apresentar em turnês mundiais, lançou dois álbuns de estúdio – com outro chegando às plataformas de streaming perto de você MUITO, MUITO EM BREVE – e ganhou o Grammy de Melhor Artista Revelação em 2018. Então, na véspera de seu novo álbum e o lançamento de seus dois singles, “Shapeshifter” e “Sweet Dream“, o BuzzFeed teve a honra e o privilégio de conversar com Alessia sobre sua música, suas inspirações e o que vem a seguir para ela.

 

Qual foi o primeiro álbum que comprou?
O primeiro álbum que senti que era meu foi Monkey Business dos The Black Eyed Peas.

Se pudesse colaborar com alguém vivo ou morto, quem escolheria?
Alguém que não está vivendo seria definitivamente Amy Winehouse. Alguém vivo seria Anderson .Paak ou Chris Martin.

Qual artista você está realmente amando no momento?
Posso citar alguns? Tenho ouvido Nathy Peluso – ela é uma artista argentina, então toda a sua música é em espanhol, mas são todas tão boas. Still Woozy, The Zombies – Eu sei que eles não são novos, mas eu estive ouvindo eles recentemente – algumas antigas dos Beach Boys, e Hiatus Kaitoye.

Alguma vez conheceu um músico que te deixou completamente deslumbrada?
Provavelmente a Hayley Williams. E quando conheci a Rihanna, por razões óbvias.

Vamos voltar a 2015 – qual foi a sua inspiração por trás de “Here”, e qual foi a sua reação ao seu sucesso?
A inspiração para “Here” foi basicamente que eu estava em uma festa do ensino médio e me senti realmente deslocada. Não era como se eu não conhecesse ninguém lá; todo o meu grupo de amigos estava lá, e todos que eu conhecia estavam lá – vocês acham que seria uma experiência mais confortável – mas por alguma razão, eu não pude deixar de me sentir tão deslocada no meu próprio ambiente. Eu me senti tão atrasada – Eu ainda não bebia; Eu realmente não dancei; Eu realmente não fiz nenhuma das coisas que muitas outras pessoas estavam fazendo… Lembro-me de ir para casa e estar tão pensativa… e então alguns dias depois, eu fui para o estúdio e disse para [meu parceiro de composição] Sebastian Kole que eu não sabia o que escrever naquele dia, e ele me perguntou o que eu fiz no fim de semana e eu disse a ele, “Fui a uma festa, mas me senti estranha.” Eu não pensei nada sobre isso, mas [Sebastian] insistiu que escrevêssemos uma música sobre isso.

Eu nunca pensei em um milhão de anos que alguém se importaria com uma música sobre a minha experiência em uma festa… mas eu estou feliz que nós a escrevemos. A canção nasceu e acabou, até certo ponto, se tornando um hino – bem, outras pessoas a chamaram assim – para introvertidos e pessoas que se sentiam da mesma forma que eu me sentia. [Nota do escritor: Eu informei a ela que “Here” é, de verdade, o hino dos introvertidos]. Percebi que há um sentimento familiar em cada experiência… e [esse sentimento] nem sempre tem que ser dramático ou traumático.

O que você que as pessoas absorvessem do Know-It-All?
Essa é uma pergunta difícil. Quando eu estava fazendo o álbum, eu ainda estava na escola, e eu não tinha uma plateia em tudo, e meu público meio que nasceu depois que ele foi lançado. Então, eu acho, quando eu estava o criando, eu nem sequer acho que havia alguém específico para quem eu estava enviando uma mensagem, se isso faz sentido. Só estava tentando encontrar o meu próprio caminho. Era um álbum sobre ser um jovem adolescente na nova era da internet… Acho que a minha mensagem, em retrospectiva, é que a vida é apenas uma tentativa de uma viagem, e não há problema em se perder.

Quanto tempo levou para finalizar o Know-It-All?
Cerca de um ano e meio.

Qual é a sua música favorita no Know-It-All?
Eu sei que é clichê, mas eu amo “Here“. É a primeira música que eu lancei, então é meu bebê. “Stone” é minha segunda favorita.

O que te passou pela cabeça quando anunciaram “Alessia Cara” como a vencedora de Artista Revelação nos Grammys?
Acho que minha mente ficou completamente vazia… tudo estava longe, meus ouvidos estavam zumbindo, e nada era real. Mesmo agora, só de falar nisso, ainda parece tão estranho. Meus pais têm a estatueta na lareira de casa, e eu ainda não consigo creditar – ainda não caiu a ficha.

Você está se preparando para lançar seu terceiro álbum de estúdio. Como você está se sentindo antes de seu lançamento?
Sinto-me nervosa, com certeza, mas não tão nervosa como no passado. O nervosismo ficou um pouco pra trás com toda a emoção que eu tenho para este projeto, porque eu trabalhei tão duro nele… Eu realmente acho que este é o melhor trabalho que eu já criei e estou animada para compartilhá-lo com meus fãs. Eu só quero que eles adorem.

Quais foram suas influências para “Shapeshifter” e “Sweet Dream”?
A razão pela qual eu queria lançar dois singles ao mesmo tempo é porque eu estava ouvindo o projeto como um todo e estava tentando descobrir um tema – porque a primeira música que as pessoas ouvem deve ser sempre uma representação do que está por vir. Enquanto ouvia o resultado final, notei o tema da “dualidade”- noite e dia, este ponto A e ponto B – e há um momento muito claro no meio do álbum, sendo a primeira metade sobre este período tumultuoso pelo qual passei… uma época muito, muito sombria e emotiva, então a inspiração para “Sweet Dream” foi esse período.

A canção em si é sobre o meu relacionamento contínuo com o sono – ou falta de sono – e minha ansiedade noturna. No ano passado, toda essa insônia se transformou em uma ansiedade extrema, que se manifestou em ataques de pânico extremos, o que foi extremamente devastador. Eu escrevi essa música enquanto dormia na casa de uma amiga – ela estava desmaiada ao meu lado, e lá estava eu, bem acordada. Então, eu escrevi essa música naquela noite para me livrar das minhas frustrações e ansiedades com meus próprios pensamentos e minha própria mente – eu a envolvi em um monte de humor e capricho para disfarçar a escuridão de toda essa situação.

Por outro lado, temos “Shapeshifter”, que é uma música extremamente confiante e atrevida – não é a música mais positiva, [mas] representa a metade do álbum que simboliza a confiança e o crescimento que eu adquiri durante esse tempo… Eu [agora] olho para a vida, e composição, com uma leveza.

Eu tive a chance de produzir esta música com Salaam Remi – uma lenda que trabalhou com Miguel, e Lauryn Hill, e Amy Winehouse, minha ídolo. Eu estava super doente, mas ele só tinha um dia livre, então viajei até Miami para trabalhar com ele… Eu o contei que era italiana, e ele começou a tocar esta melodia na guitarra dele, e isso imediatamente me inspirou. Assumi a personalidade de uma mulher italiana confiante que eu veria em filmes antigos… Alessia Cara costumava ser como, “Pobre de mim“, mas essa nova personalidade que eu criei para “Shapeshifter” foi tipo, “Não, coitado de você por me perder”.

Descreva seu álbum em três palavras.
Moeda de dois lados.

Qual é a sua parte favorita de “Sweet Dream” ou “Shapeshifter”?
De “Shapeshifter”: “Não sei se quero ter você de volta ou tê-lo de volta.

Como o ano passado em quarentena afetou seu processo de escrita e gravação?
Foi de verdade muito difícil no início – Eu estava me sentindo tão não-criativa e travada. Havia alguma inspiração lá, mas eu não queria escrever um “álbum pandêmico”. Queria dar às pessoas algum tipo de fuga… algum tipo de esperança. Eu direi, a quietude forçada foi útil para mim porque me permitiu sentir o que eu precisava sentir – chegar ao fundo do poço e depois me reconstruir.

Se conseguisse que uma pessoa ouvisse o teu álbum, quem seria?
Coldplay – especificamente Chris Martin.

Há alguma referência escondida nas letras ou clipes de “Sweet Dream”, “Shapeshifter” e AC3?
O terno que eu uso na era de Growing Pains aparece nesta nova era. [Nota do escritor: Alessia e eu também discutimos como a camisa xadrez vermelha e jeans skinny preto do Know-It-All fez uma aparição em Growing Pains]. Adoro prestar homenagem à última era em minhas eras atuais.

 

Essa cena de “Sweet Dream” é uma homenagem / referência ao primeiro EP e single de Alessia, “Four Pink Walls”.
“Scars to Your Beautiful” é uma música muito impactante – o que estava passando pela sua mente durante a sua revolucionária performance dessa música enquanto você estava tirando a maquiagem?
A esperança era que as pessoas ouvissem a mensagem, sabe, e eu nunca pensei que este seria um momento cultural. Durante a performance, eu só [tirei minha maquiagem]… Eu não achei que teria essa reação. Mesmo agora, quando abro o TikTok e vejo pessoas usando essa música como um som e transcendendo o que eu pensei que poderia ser… Vou sempre apoiar essa mensagem.
Para finalizar, que conselho daria aos aspirantes a músicos?
Meu assessor me disse, no início da minha carreira, que “Não é sobre o que você diz sim, mas para o que você diz não“. É saber quem você é, mas também saber quem você não é. Não faz mal dizer “não”, o que me lembra outra citação que adoro: “‘Não’ é uma frase completa.”
Fonte: BuzzFeed