É gratificante e meio que bonito crescer junto a um artista. Alessia Cara começou na música em 2015 com pouco mais de 18 anos, e já nessa idade, estava preocupada com a ideia de crescer. Seu primeiro single, inteligente e precoce, foi uma crítica detalhada de uma festa adolescente em que ela não queria estar; seu segundo álbum, apropriadamente intitulado “The Pains of Growing”, foi o equivalente musical de um romance sobre a chegada à vida adulta; em sua faixa de 2019, October, ela canta, feliz, mas com traços de nostalgia melancólica, sobre já perder as memórias que ela está no meio de fazer com seus amigos. Crescer não é fácil, e Alessia criou, através de sua música, uma crônica desses belos altos e baixos.
Somos um pouco mais velhos agora, assim como Alessia. Aprendemos com nossas experiências, contratempos e corações partidos, e ela também. Preparada com um lançamento duplo de dois novos singles, Sweet Dream e Shapeshifter, Alessia escreve agora de um lugar mais sábio e mais conhecido, mantendo a honestidade, autenticidade e firmeza pelas quais ela é conhecida e amada.
Como você vê o processo de composição no momento, e isso mudou ao longo da sua carreira?
Começando jovem, eu constantemente sentia que tinha que provar a mim mesma como compositora em meus primeiros projetos. Eu senti essa pressão para ser impressionante com a minha composição, então eu escrevia as coisas com palavras de uma forma mais redundante para fazê-las soarem melhor – nunca parecia que apenas dizer as coisas era o suficiente.
Agora, quanto mais eu sigo na minha carreira e quanto mais forte a base que eu construo para mim, mais eu tenho percebido que não é por isso que meus fãs são meus fãs. Há valor na simplicidade e em apenas dizer as coisas da maneira que eu preciso. Eu tive mais tempo e o conforto do meu próprio espaço para processar as coisas ao longo do último ano, e ao mergulhar mais profundamente na minha composição e fortalecer esse músculo de auto-expressão, eu me tornei mais sincera na minha música. Eu crio música melhor porque não estou mais me segurando tanto.
Você trabalhou com o produtor Salaam Remi (Miguel, Amy Winehouse, etc.) em Shapeshifter. Que tons você está experimentando nessas novas músicas?
Sou uma grande fã de soul e jazz, e Amy Winehouse é uma dos meus ídolos. Eu tenho aproveitado este sentido visceral de ouvir algo e amar, e, em seguida, aumentar esse sentimento ainda mais. Isso foi o que aconteceu com Shapeshifter – Salaam e eu estávamos falando sobre nossa herança, e eu disse a ele que eu sou italiana. Ele estava com uma guitarra na mão e começou a tocar um riff que parecia algo de um filme italiano antigo ou de um filme do Poderoso Chefão; era algo que lembrava aquela época. Foi a primeira coisa que ele tocou, e eu comecei a escrever, seguindo esse sentimento.
De que maneira você escreve agora?
Eu estava escrevendo de um lugar de necessidade há alguns meses. Minha saúde mental estava tão ruim que eu precisava desesperadamente me soltar dos sentimentos que eu estava tendo. As pessoas fazem coisas diferentes, mas para mim a única maneira é escrever; colocar no papel, fora de mim.
Uma vez que coloquei os sentimentos para fora, eu percebi que eu poderia reutilizá-los – talvez o que eu expressei ali poderia significar algo para outra pessoa. Coisas que parecem sem nexo, ou tão egoisticamente específicas da sua situação, são muitas vezes as joias com as quais as pessoas mais se identificam. Afinal, todos os sentimentos já foram sentidos antes, e são esses sentimentos específicos que as pessoas realmente entendem muito bem.
Eu também acho que eu escrevo sobre a dor de forma diferente agora. Eu costumava escrever dor como “pobre de mim, eu me sinto tão perdida” porque é assim que eu me sentia na época. Através do crescimento e da cura, agora posso olhar por cima do ombro, ver até onde cheguei, e escrever sobre a dor de um lugar em que não sinto mais como se estivesse presa. Minhas músicas parecem mais leves e esperançosas do que antes – Shapeshifter e Sweet Dream não são músicas muito positivas, mas eu escrevi sobre coração partido e insônia de uma forma que é espirituosa, e mais “pobre de você” do que “pobre de mim”.
Você começou na música muito jovem. Isso lhe afetou de alguma maneira?
Foi muito desafiador no começo, quando eu saí do ensino médio, onde meu estilo de vida era tão diferente do de um músico profissional. Eu vivia uma vida tão isolada – da escola para casa, da escola para casa, e nunca viajei para lugar nenhum. Eu não tinha descoberto quem eu era, como eu não tinha explorado nada ainda. Pular para o estilo de vida completamente oposto tão rapidamente e tão jovem foi difícil – eu tinha muito medo e não sabia como dizer não.
Agora, estou em um lugar muito melhor onde sou capaz de cuidar de mim mesma. Na verdade, só nesse ano que eu comecei a entender o valor do que eu faço, e aprendi a apreciá-lo propriamente. Eu tenho um monte de ferramentas na minha caixa de ferramentas que eu ganhei de todas as minhas experiências. Eu me sinto muito melhor.
Quem é a Alessia Cara que você quer compartilhar com a gente em sua nova música?
Esse é o meu material favorito de tudo que eu já fiz. Estou tentando não levar tão a sério ou ser muito meticulosa, e em vez disso, apenas experimentar e aproveitar a experiência. É engraçado porque as pessoas chamam isso de um “comeback”, mesmo que eu nunca tenha parado, mas eu estou feliz que eles falem isso – significa que as pessoas podem ouvir a evolução no projeto, sinto como um avanço.
Fonte: The Forty-Five