Alessia Cara não é mais uma artista nova. Ela levou para casa o Grammy de Best New Artist mais cedo neste ano, “Here” e “Scars To Your Beautiful” foram #1 nas rádios pop, ela ajudou no aumento de 100% de ligações para a Linha de Prevenção ao Suicídio por conta da sua aparição na canção de Logic “1-800-273-8255” (a propósito, ela só tem 22 anos de idade).

Ainda em 2018, Cara lançará seu segundo álbum, “The Pains of Growing”, sucessor do “Know-It-All”, lançado em 2015, e dessa vez ela tomou conta de todo trabalho de composição; o single “Trust My Lonely” será lançado hoje.

Refinery29 falou com Cara sobre quebrar o modelo de como uma popstar pode parecer ou soar, apoiando outras mulheres não representadas na indústria, e como ela foi de chorar no chão do banheiro a escrever músicas.

Sobre o que em seu próximo álbum você está animada?

É o meu primeiro álbum em três anos, então apenas lançar músicas novas é animador para mim. Eu espero que as pessoas gostem dos novos sons que eu estou experimentando, é um pouco mais maduro e eu falo sobre as coisas com mais vulnerabilidade. É uma mudança do primeiro álbum, que foi escrito e lançado quando eu ainda era uma adolescente. Agora eu estou mais aberta e confortável comigo mesma então eu consigo falar mais livremente sobre as coisas.

Fale sobre seu novo single, “Trust My Lonely”.

Inicialmente eu escrevi sobre as minhas inseguranças. Foi no começo do processo de escrita do álbum, eu estava insegura sobre escrever sozinha então eu criei o conceito de confiar na sua solidão, confiar em si mesmo sem mais ninguém. Eu pensei, o que eu diria para as inseguranças e pensamentos negativos na minha cabeça se eles fossem uma pessoa? Foi daí que a música veio, eu estava escrevendo o que eu diria para essas inseguranças. Espero que seja uma música empoderadora, que as pessoas possam identificar com alguém de suas vidas como um ex ou alguém que foi ruim com elas. E eu espero que seja um lembrete para confiar em si mesmo e que você não precisa contar com mais ninguém.

 

Eu entendo que você escreveu todas as músicas sozinha, o que é uma grande mudança também.

Definitivamente! Eu fui de trabalhar com um parceiro de escrita a tentar sozinha. Foi meio assustador porque quando você não tem apoio, você não sabe o que vai acontecer. Eu tentei não pensar muito nisso como um desafio e apenas escrevi sobre o que eu estava sentindo. Foi muito mais fácil e natural do que eu pensei.

Você tem dito que escrever esse álbum foi inspirado na vida ficando difícil e que ele é mais aberto. Como isso se manifesta? Qual foi sua sessão de escrita mais difícil?

Tiveram algumas, para ser honesta. Há tantas facetas diferentes das dores de crescimento, sejam pessoal, emocional, ou relacionamentos e estar apaixonado e com coração partido. Eu queria expressar estar me sentindo triste falando sobre chorar no chão de banheiros e indo a terapia – parecia muito aberto. Eu fiz isso não só por mim mas para outras pessoas que estão escutando e pensam que chorar no chão do banheiro é estranho ou que elas são fracas por fazer isso. Elas podem me escutar dizendo ‘Ei, eu estou aqui com você’, e isso pode dar algum tipo de conforto para eles. Nós estamos todos no mesmo barco, muito mais do que nós pensamos. Essas coisas são difíceis para eu dizer em voz alta e falar sobre, muito menos para dizer isso para o mundo, mas eu acho que é importante.

Você chegou a ver os números que saíram nesse ano do Annenberg Inclusion Initiative sobre a representatividade das mulheres na música? Uma das coisas que eles descobriram é que compositoras mulheres escreveram apenas 12.3% dos maiores hits pop. Enquanto você estava trabalhando no álbum ou até mesmo trabalhando com o Zedd e Logic, qual foi a dinâmica que você estava pensando sobre?

É difícil. Eu mesma como compositora, quando estava conversando com algumas compositoras mulheres que eu conheço, eu descobri essa coisa em comum – especialmente se você é uma mulher jovem – que é as pessoas dizerem ‘Oh, ela tem feito sucesso. Eu me pergunto a quem ela deve.’ Pessoas raramente acreditam que uma mulher consiga fazer isso sozinha. Parece ser um conceito tão datado, mas continua muito presente na indústria fonográfica. Eu tenho visto com os meus próprios olhos algumas compositoras e artistas incríveis e talentosas que não ganham o reconhecimento que merecem por causa de pessoas que pensam que elas não estão fazendo isso sozinhas. Ou, se eles veem o nome de um homem nos créditos eles assumem que eles fizeram a maior parte do trabalho. As mulheres têm que continuar fazendo o que elas fazem e apoiar uma a outra. Pessoas gostam de criar competição entre mulheres ao invés de nos deixar trabalhar juntas e nos apoiarmos. Eu acho que essa é uma grande maneira de nós irmos para frente: apoiarmos umas as outras, trabalhar com compositoras e produtoras mulheres, nos ajudarmos. No meu próximo álbum, eu quero encontrar algumas mulheres que produzem e trabalhar com elas.

Outra estatística do estudo que me surpreendeu é que a relação entre produtores homens e mulheres nos charts de músicas pop é de 49 por 1. Eu tenho perguntado muitas mulheres da música o porquê disso. Qual é a sua opinião?

Eu sei que até para mim mesma, eu quero explorar a produção, por muito tempo pensei que isso não fosse possível. Nos falta apoio e eu acho que nos falta confiança também. Todos os grandes nomes na produção são homens. Os executivos contratando e ajudando esses produtores são homens. Isso cria um ciclo de problemas de autoestima que impede mulheres de entrarem no campo. Mas, voltando a ideia sobre apoio: homens e mulheres artistas precisam apoiar mais essas pessoas para que se possa criar um efeito cascata. E então mais mulheres ganham mais confiança para tentar produzir.

Você me parece alguém que tem muita confiança sobre tentar coisas novas. Eu lembro quando “Here” começou a tocar na rádio, eu amei porque se destacou de todo o resto. Como você convenceu sua gravadora e como eles convenceram as rádios a tocar algo tão diferente?

Em relação a “Here”, foi uma longa batalha que eu tive que lutar [ri]. Mas se você precisa que as pessoas escutem, você tem que fazê-las te escutar. Eu lembro de sentar em salas de reunião explicando para todas as pessoas porquê elas deveriam me dar uma chance. Eu viajei para cinco cidades diferentes durante poucos dias e toquei a música no violão para as pessoas das rádios, pedindo para que confiassem em mim. Eu acho que uma vez que a lançaram, os fãs e apoiadores daquela música fecharam o acordo. Eles estavam dizendo que gostaram dela e ela estava falando por um grupo de pessoas que não são tão ouvidas. Eles a deram asas e vida. Eu acho que é importante arriscar, mas as pessoas não gostam de arriscar – especialmente na rádio. No lado mainstream das coisas, as pessoas sempre estão tentando não se arriscar, apenas por precaução. Mas o que é o pior que poderia acontecer? Vamos apenas tentar sons diferentes que merecem ser ouvidos.

Com esse segundo álbum, sua gravadora tem te apoiado mais quando você arrisca?

De um modo, sim. Eles têm visto que isso funciona para mim. Eu acho que eles sabem que agora que meus fãs são meus fãs por causa do que eu tenho a dizer e não por razões superficiais. Eu tenho uma rede de apoio de pessoas que gostam de mim e querem ouvir coisas minhas. Então a parte da gravadora é ver isso e confiar mais em mim porque eles podem ver quem são meus fãs e o que eles precisam.

Você tem lidado com muita liberdade artística e sucesso sendo nova. Você acha que há uma correlação entre isso e o modo como você foge dos padrões tradicionais de beleza, indo a premiações e performances sem maquiagem ou roupas chiques?

Eu acho que sim. Isso não é apenas quem eu sou como pessoa mas também quem eu sempre quis ser como artista. Eu quero mostrar às pessoas que você nem sempre precisa ser de uma forma. Não há apenas um caminho para o sucesso. Há um conceito estúpido — eu odeio ter que usar a “carta da mulher” novamente, mas é verdade — que há apenas um jeito de nos vestirmos, parecermos e soarmos. Quando eu estava crescendo, eu não conseguia me identificar com muitas artistas pop. Eu não parecia ou soava como elas, e eu me perguntava se eu deveria para ser uma artista. Eu não quero que outras meninas e meninos pequenos se sintam dessa forma. Eu quero que eles me vejam, alguém que se parece com eles e tem os mesmos valores que eles fazendo algo que é considerado sucesso. Talvez isso dará a eles a esperança de que eles podem fazer isso também. Isso não é apenas egoistamente para mim, porque é desse modo que eu quero viver a minha vida, mas isso é o que dá confiança a outras crianças.

Esta entrevista foi editada por clareza e tamanho.


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