2020 nos deu muitas oportunidades únicas para auto-reflexão ao entrar em quarentena: vivendo com seus pais novamente, sentando infinitamente em um parque, tudo isso traz de volta toda a nostalgia da vida pré-adulta. E, se há alguém que sabe uma coisa ou duas sobre mergulhar de volta nas profundezas de sua infância, é a cantora e compositora nascida em Brampton, Alessia Cara.

Aqui, Cara compartilha conosco tudo sobre suas maiores influências musicais, como é ter sinestesia, e até nos mostrou um pouco de sua própria cápsula do tempo com fotos editadas no Picnik e páginas de seus primeiros dias como autora.
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Como você era quando criança?

Eu era uma criança muito muito quieta, muito tímida. Lembro de estar na escola e ter minha professora me puxando para um canto, perguntando se tudo estava bem em casa porque eu estava quieta demais. Eu nunca sorria, era muito na minha então recebia ligação de professores para se assegurarem que tudo estava bem pois eu não parecia estar bem, por mais que eu fosse apenas tímida e quieta. Eu não gostava de falar muito, falar em frente de todos era a maior tarefa possível. Quando fui ficando mais velha, fui me tornando um pouco mais social e entrei no teatro no ensino médio, melhorei um pouco no quesito social. Sinto que isso sempre vai ser um pouco assim, sendo um pouquinho tímida.

Li que você aprendeu a tocar violão sozinha depois de ganhar um de aniversário.
Sim. Era o meu 10º aniversário, eu acho, e eu aprendi um pouco, e então eu fiz aulas por uns dois meses, não tinhamos condição de pagar mais e então parei, daí aprendi o resto sozinha mesmo. Eu ainda não me considero uma guitarrista incrível, mas eu sempre amei tocar. O segundo que ganhei uma eu fiquei tipo, eu preciso aprender.

Foi sua introdução à música? 
Eu sinto que uma vez que comecei a aprender músicas no violão, foi quando comecei a desenvolver meu próprio gosto em música e encontrar sons que eu gostava além do que tocava em minha casa. Eles meio que coexistem, mas naquela época, provavelmente, comecei a desenvolver um gosto por compor músicas.

E qual foi a primeira música que aprendeu?
A primeira música foi bem profunda, foi “Dear Mr. President” da P!nk. Eu adorei, achei lindo e tocava o tempo todo.

Quais foram as suas maiores influências musicais quando começou a descobrir o seu próprio estilo?
Eu tinha um monte. Quando eu era mais nova, eu amava Black-Eyed Peas e The Gorillas e bandas assim. E depois, à medida que envelhecia, descobri Amy Winehouse e Lauryn Hill e cantoras mais velhas como a Etta James. Eu gravitava em direção a um monte de jovens mulheres que só tocavam violão e tinham grandes vozes e queria imitá-las em tudo o que fazia, então elas realmente me inspiraram.

Qual foi o seu primeiro CD?
O primeiro CD que minha mãe me deu foi Metamorphosis, da Hilary Duff. O primeiro que eu comprei pra eu mesma foi o álbum Monkey Business do Black Eyed Peas.

Você se lembra do seu primeiro show?
Eu tinha um pai muito rigoroso.
 Eu não tinha permissão para ir a nenhum dos shows das pessoas que eu ouvia até eu ter, eu acho, 14 anos de idade. Minha prima tinha um ingresso extra para um show do Justin Bieber e eu fui, e foi a experiência mais louca da minha vida. Eu nunca tinha ouvido barulhos tão altos e gritos tão altos na minha vida, então eu só me lembro de assistir e era tipo: “Eu quero fazer o que ele está fazendo”. Foi a primeira vez que fui exposta a um show e como ele era.

 
Isso é incrível. Eu li que você tem sinestesia, o que é muito interessante. Como isso interage com a sua criatividade? Muitas pessoas criativas são sinestésicas.
Eu tenho várias formas de sinestesia. Mas uma que me ajuda muito com música é a cor – som. Todas as minhas músicas tem cores e formatos na minha cabeça, o que é muito útil para os aspectos visuais, como vídeos, porque a música tem cores e essa é a cor que ela é, e isso ajuda muito a imaginar como o visual deve ser. Até mesmo no palco e em tour, as cores das luzes combinam com a música.

Que cor é 2020?
Bom, 2 é meio cinza, então isso meio que se aplica. Tipo, 2 e 0 são ambos meio cinza e azul, que é como eu sinto.

Seu último álbum foi inspirado por sua criação. Como você encapsularia as influências que teve?
Eu cresci escutando muita música soul e jazz. Eu amo discos de vinil, até hoje eu tenho um monte de discos de álbuns ao vivo, então eu acho que Live Off the Floor é tão reminiscente de todas aquelas influências, até mesmo a arte da capa. Eu queria muito que ele parecesse com os discos que eu amo, e meus pais amavam, você sabe. É apenas meio que um tributo a música soul. Mas também há cordas nele que são muito orquestrais, parece muito grande e cinemático também, que eu amo muito também.

E quanto a experiências, como “Here” sendo sobre odiar festas do ensino médio?
As músicas que escrevi quando tinha 16 anos, como “Here” e “Scars To Your Beautiful”, são muito reminiscentes da minha vida como criança. Como eu disse, eu era extremamente tímida, no ensino médio eu era extremamente insegura sobre minha aparência e quem eu era, e qual era meu lugar no mundo. E até mesmo músicas que são mais recentes como “October”, são sobre me livrar de inibições e me sentir criança novamente.

Sendo criança, você não tem muitas preocupações, mas inevitavelmente isso vai embora. E por isso é importante ter memórias que encapsulam aqueles tempos inocentes e eu sinto que “October”, mesmo que eu não fosse uma criança, tinha essa essência de apenas infância. Eu me senti muito livre e eu sabia que essa sensação iria embora. Então, eu queria escrever sobre isso.

Por que você começou tão jovem, você tem muito da sua história e do seu crescimento na web, seja no YouTube ou nas redes sociais. Como você se sente sobre isso?
Muito disso é ótimo, é bom ter memórias para sempre. Mas algumas coisas, você provavelmente gostaria que muitas das coisas que não tivesse para sempre, como algumas de suas escolhas de roupas ou vídeos que eram terríveis ou coisas assim. É bom saber que é onde você estava, mesmo que não ame necessariamente onde estava, é muito bom ver o seu crescimento, eu acho.

A Capsule 98 foi iniciada por causa de uma cápsula do tempo de 1998.
Quando eu tinha 12 anos, também fiz uma cápsula do tempo! Era apenas [meus amigos e eu] conversando sobre nosso futuro e como pensávamos que éramos. Tipo, nunca pinte seu cabelo. Não sei porque achei que pintar seu cabelo era uma coisa ruim, mas eu simplesmente achei. Foi divertido.

“Eu costumava editar fotos neste aplicativo chamado picnic, era terrível. Eu usava fontes e cores terríveis e achava que era a MELHOR editora.”

O que mais estava lá?
Falamos sobre nossa amizade, tipo, esperamos que sejamos melhores amigos e se vocês não são amigos, têm que ser amigos de novo. Ou perguntando a mim mesmo: qual a sua altura? Onde você mora? Você ainda mora na mesma casa? Como está a 6ª série? (Porque eu odiava a ideia de ir para a 6.ª série, pensei que era muito velho.) Tão idiota, mas você sabe, é bom olhar para trás agora.

Que objetos físicos você teria colocado lá se fosse algo que você enterrou?
Tenho diários dessa época e um projeto que fiz por volta de 2008-2009 quando tinha 12 anos. É um pequeno projeto escolar chamado ‘Tudo sobre mim”, onde tive que falar sobre mim e meu irmão por cerca de seis páginas;

“Minha mãe me matriculou em uma pré-escola chamada Peekaboo, que era um pesadelo e os professores estavam lá, eu gritava e chorava o tempo todo.”

Havia um pequeno diário que minha tia me comprou da Itália e sou apenas eu falando sobre coisas e escrevi pequenas histórias falsas dentro;

“Era uma vez uma garota chamada Ella. Ela morava com os pais e a meia-irmã Melanie. Melanie sempre parecia conseguir o que queria. Ella estava com ciúmes e ela queria saber o porque, uma noite ela seguiu Melanie para seu quarto e Melanie entrou no banheiro. Ella se recusou a segui-la, em vez disso, ela olhou nas gavetas de Melanie e encontrou uma joia que estava em uma caixa de ouro brilhante.

Uau, muito bom.
Sim e o que acontece, não sabemos. Acho que a joia fez lavagem cerebral nas pessoas ou algo assim.

Oh uau.
“Por que você fez isso? Porque como você é uma criança de verdade, pensei que conseguiria tudo o que quisesse, então eu queria o que eu queria. Eu estava com ciúmes.” Ela estava com ciúmes de Ella, então ela conseguiu uma joia para conseguir o que queria para fazer uma lavagem cerebral em sua família.

Você era obviamente super criativa.
Eu também tenho, e nem sei se isso existe para mais alguém, mas essa coisa chamada Gimp. Você já ouviu falar disso? Só me resta o barbante, nenhuma das milhares de pulseiras que fiz.

O que te deixa nostálgica?
Eu era muito fã programas de TV como Lizzie McGuire, That’s So Raven, Animaniacs e Boy Meets World – todas as coisas que assistia depois de voltar da ula. Eu nem sei se é o programa especificamente ou apenas a sensação de voltar da escola e pegar um lanche na despensa e apenas sentar e assistir. Eu simplesmente sinto falta da inocência disso.

A vida era muito mais simples. Agora é meio triste quando vejo crianças com eletrônicos e mídias sociais e outras coisas (me sinto uma velha quando falo sobre essas coisas). Que bom que está aí, é o que um dia vai ter nostalgia, mas gostaria que as crianças tivessem a infância que tivemos, porque sinto que estão perdendo muito.

É definitivamente interessante ter uma infância em que você está totalmente autoconsciente, porque NÃO estar ciente é o que é inocência.
Estou curiosa para ver como isso afetará as pessoas quando ficarem mais velhas, porque ainda não vimos isso. Eu sinto que não pode ser bom para você, ser tão autoconsciente ou não sei, viver para outras pessoas já, como se isso fosse algo, você deveria descobrir sobre o mundo, sobre como as outras pessoas veem nós, mesmo que não devesse ser assim. Mas você sabe, de pensar isso como uma criança já parece muito confuso.

Você falou sobre um monte de coisas que você assistiu quando criança e agora você está envolvida em filmes de animação mesmo, com The Willoughbys e Moana. Qual é a sensação de saber que você vai ter um impacto na infância de outras pessoas?
Eu amava todos os filmes da Disney. Alice no País das Maravilhas era o meu favorito. Mas a coisa é, meus pais tinham as fitas de VHS em italiano então eu só os assisti em italiano, eu não sabia como eles soavam em inglês até que eu fiquei mais velha e só recentemente comecei a assisti-los e percebendo que é uma vibração totalmente diferente. É legal. É legal ver as diferentes versões. Eu amei A Viagem de Chihiro também. Esse foi um ótimo filme e eu acho que ainda é muito relevante agora.

Quando se trata de mim agora fazendo isso, é incrível porque sei o quanto os desenhos animados significavam para mim quando criança e como ele leva você de volta a esse momento específico em sua vida, e sabendo que eu posso ser uma parte de uma criança que vai crescer e ser uma parte de sua nostalgia de uma maneira é realmente, muito legal. Sim, é realmente incrível, especialmente com The Willoughbys. Eu estou vendo as pessoas fazerem bolos dos Willoughbys para o seu aniversário e coisas bonitas assim e é a coisa mais fofa, então eu mal posso esperar para que eles fiquem mais velhos, apenas para fazer parte da vida dessas pessoas, mesmo que não saibam que sou eu, é legal.

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